O ministro Weintraub alega estar sendo atacado e “moído” pela opinião pública. Na verdade, paga o preço da incúria, do obscurantismo e da falta de propostas. Terá de comparecer ao Congresso para dar explicações. Poderá sair de lá ainda mais desgastado.
A educação é a menina dos olhos de qualquer governo, menos do de Bolsonaro. Há um quê de birra e ressentimento estampado nas falas dos ministros da área, de Vélez a Weintraub, assim como do próprio presidente. Não é só a retórica de “caça aos marxistas” que se esconderiam nas salas de aula; essa é a cortina de fumaça. O importante é registrar o desprezo pelo valor intrínseco da escola, a demonstração de que não sabe o lugar da educação na sociedade do conhecimento em que vivemos, não podendo, portanto, propor algo que preste.
Não é preciso gastar tinta para denunciar a situação, que embute um risco real de desmontagem de um sistema cuja construção tem consumido muitos esforços e muita paciência. Em educação, ciência e tecnologia. Este é o governo que está aí, e dele não nos livraremos com facilidade, seja porque carrega uma legitimidade consagrada nas urnas, seja porque ainda tem cartuchos para queimar e não se envergonha de atribuir sua inação à mídia e aos políticos tradicionais.
O decisivo é trabalhar para, antes de tudo, minimizar os efeitos do desastre que se anuncia, na educação e além dela. E, ao mesmo tempo, conversar, dialogar, construir consensos que deem vida e fôlego para uma articulação democrática que prepare o amanhã. Que se superem a retórica revanchista, a atitude de retrucar de modo passional às provocações governistas, de entrar em atrito com aliados sem atentar para a opinião.
A paralisação de professores e estudantes – das universidades federais e estaduais, de muitas escolas particulares e públicas de segundo grau – convocada para hoje em escala nacional pode ser uma oportunidade excepcional para que não somente se vocalize a defesa da educação mas também se comece a preparar a unidade de pensamento e ação que tanta falta faz no momento. Que se juntem nas ruas diferentes credos políticos, distintas orientações valorativas, liberais, gente de direita e de esquerda, sem arroubos e provocações. A causa da educação pede isso.
Se algo há que conspira contra a democracia é a reiteração da polarização, sobretudo a maniqueísta. A própria fase histórica em que nos encontramos – que é de transição estrutural – requer que se vá além de radicalizações: pede serenidade, reflexão e luta política. A indignação, inevitável, será tanto mais bem-vinda quanto mais próxima estiver da realidade.
É inócuo responder aos despropósitos bolsonaristas com apelos populistas a líderes redentores ou com pedras nas mãos. Esse tipo de pressão não funciona, olha para o passado. A saída está em outra porta, que escancara o futuro.