
De manobra em manobra, Renan foi à lona
O mais importante não foi a eleição de Davi Alcolumbre para presidir o Senado. Foi a qualidade do processo. Como se se estivesse em um circo, houve de tudo mostrando um padrão político lamentável.
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Numa dinâmica e instigante conversa, publicada no canal de Risério no Youtube, o antropólogo e o sociólogo discutem as principais questões da agenda política e cultural contemporânea.

O mais importante não foi a eleição de Davi Alcolumbre para presidir o Senado. Foi a qualidade do processo. Como se se estivesse em um circo, houve de tudo mostrando um padrão político lamentável.

Criado por um grupo de cientistas em 1947, o Doomsday Clock assinala o perigo de uma catástrofe mundial em decorrência de ameaças várias. Quando mais próximo da meia-noite, maior o perigo.

Passados 27 dias de sua posse, o governo Bolsonaro não mostrou ter uma alma. Falta-lhe quase tudo: programa, projeto de País, discurso, comunicação, temperança, conhecimento do terreno, prudência, capacidade de articulação, quadros técnicos e políticos competentes.

Os ataques a Gramsci e ao “marxismo cultural” apoiam-se na superficialidade e na estigmatização. Não desejam fomentar qualquer debate. Levam ao empobrecimento da democracia e do diálogo público. Capturado pela insanidade por ele mesmo criada, o governo Bolsonaro entrega-se ao frenesi ideológico

O antimarxismo dos nossos dias não conhece Marx, não leu seus livros nem as análises de seus intérpretes. É pura ideologia, que opera por sobre a espuma levantada pela circulação das ideias marxistas e pelas disputas ideológicas em torno delas. O que lhe falta de rigor filosófico e conhecimento histórico é compensado por uma combatividade histriônica que pouco se importa com o que Marx realmente disse ou com o significado de suas proposições.

Para as forças democráticas, a ideia de “centro” é preciosa, mas precisa ser qualificada com rigor. Sem isso, dificilmente exibirá face rejuvenescida e não conseguirá se desvencilhar do que já se tentou fazer no passado, sem grande sucesso. Terá reduzido poder de sedução

Faltam prudência e sentido estratégico, sobra desejo de ‘mudar tudo o que está aí’. A política externa pode derivar para a manifestação ideológica de um antiglobalismo retórico e subordinado ao trumpismo.

A proposta quer agitar e intimidar. Sua intenção é polarizar e dividir os ambientes escolares, jogando a direita contra a esquerda, alunos contra professores, estigmatizando uns e outros, gerando pânico e insegurança. A ideia é desorganizar o ambiente escolar e desencadear uma sistemática de censura e perseguição.

Uma nova política externa deveria se apoiar no que serviu de base para a construção do Estado nacional, não no desejo de contrastar as diretrizes que imputa a seus adversários. Sem isso, desorganizará a diplomacia e deixará de defender o país

Os democratas precisam compreender onde erraram e refazer o caminho, valorizando o que foi conquistado de 1988 para cá. Devem ajustar o foco e voltar a agir. Pensar bem, ver o que é possível fazer, com serenidade e sem precipitação.

A sociedade se machucou muito com a disputa eleitoral. Foi intensamente pressionada pelos dois polos que chegaram ao segundo turno. Assustou-se, manifestou medo e preocupação, pôs para fora dúvidas e preocupações. Mas também extravasou esperanças e expectativas. Agora é o momento de baixar o fogo, reencontrar a tolerância e a gentileza,que se perderam durante a guerra.

O Brasil não terá como ser governado sem uma pacificação geral dos espíritos. O futuro será comprometido se perdermos a perspectiva da comunidade política democrática e continuarmos a alimentar divisões perfunctórias, a competição pelas migalhas do poder, a retórica de “guerra”.