
Ajustar o foco
Os democratas precisam compreender onde erraram e refazer o caminho, valorizando o que foi conquistado de 1988 para cá. Devem ajustar o foco e voltar a agir. Pensar bem, ver o que é possível fazer, com serenidade e sem precipitação.
Os democratas precisam compreender onde erraram e refazer o caminho, valorizando o que foi conquistado de 1988 para cá. Devem ajustar o foco e voltar a agir. Pensar bem, ver o que é possível fazer, com serenidade e sem precipitação.
A sociedade se machucou muito com a disputa eleitoral. Foi intensamente pressionada pelos dois polos que chegaram ao segundo turno. Assustou-se, manifestou medo e preocupação, pôs para fora dúvidas e preocupações. Mas também extravasou esperanças e expectativas. Agora é o momento de baixar o fogo, reencontrar a tolerância e a gentileza,que se perderam durante a guerra.
O Brasil não terá como ser governado sem uma pacificação geral dos espíritos. O futuro será comprometido se perdermos a perspectiva da comunidade política democrática e continuarmos a alimentar divisões perfunctórias, a competição pelas migalhas do poder, a retórica de “guerra”.
Os democratas chegaram ao segundo turno desnorteados, cansados de guerra, tendo de se satisfazer com manifestos e declarações de “votos úteis antifascistas”. Não souberam se comunicar, não dialogaram nem ouviram a população. Flutuam no palco como seres sem alma, sem cabeça, agarrados a pedaços do que no passado era chamado de “grande política” mas que, hoje, funcionam no máximo como estratégia de sobrevivência.
O discurso com que Bolsonaro se dirige às massas é assustador. Sua contundência não lapidada, brutal, esgrimida como uma adaga mortífera, é um convite à violência. Levado a massas excitadas e ressentidas, pode tornar ingovernável o País.
A cultura da época está fazendo com que se troque a moderação política pela contestação radicalizada, a delicadeza e a empatia pela brutalidade. Indispõe a opinião pública com o modo de ser dos políticos e desdemocratiza a cabeça dos cidadãos. A agressividade virou regra.
O trabalho de construção de frentes democráticas reúne o destemor do leão, o trabalho incansável da formiga e a malícia da raposa. Não avança somente com manifestos e declarações de apoio. Frentes precisam de propostas claras, gestos eloquentes de sacrifício dos interesses particulares em nome de um interesse comum.
Não se trata de “fazer autocrítica” ou pedir desculpas pelos erros cometidos. Mas de mostrar humildade e intenção sincera de contribuir para que os democratas se aproximem entre si e deixem de ser combatidos como inimigos