Ricupero, Lafer e as relações internacionais do Brasil

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Livro reconstroi trajetória e ideias de duas figuras que fizeram, ao longo da vida, uma verdadeira ode à diplomacia, à busca da paz e da harmonia no mundo

Você lê o interessantíssimo livro do diplomata Paulo Roberto de Almeida como se estivesse acompanhando uma conversa entre amigos. Há um mestre de cerimônias, o autor, que se mistura com os amigos, menciona suas biografias, qualidades e trajetórias. São todos especialistas em diplomacia, Itamaraty e política externa.

O livro transpira afinidades eletivas, como Paulo Roberto menciona algumas vezes. As afinidades o auxiliam a captar o lado humano e profissional das duas grandes figuras públicas merecedoras de sua atenção, Rubens Ricupero e Celso Lafer. Há convergências e confluências entre eles, mas também diferenças. Paralelismo. Ricupero e Lafer são personagens de destaque da política externa brasileira. São intelectuais refinados, escritores de livros seminais e de intensa atividade pública.

Vidas paralelas: Rubens Ricupero e Celso Lafer nas relações internacionais do Brasil (RJ, Ateliê de Humanidades, 2025) tem seu mérito maior na exposição que nos faz de duas figuras que fizeram, ao longo da vida, uma verdadeira ode à diplomacia, à busca da paz e da harmonia no mundo. Viveram as guerras e atrocidades das últimas décadas, estudaram suas determinações, enveredaram pelas trilhas da pesquisa e da reflexão teórica, sempre à procura de novos conhecimentos. O foco de ambos foi localizar o lugar do Brasil no mundo e compreender sua história no terreno das relações internacionais.

Ricupero escreveu a monumental e imprescindível A diplomacia na construção do Brasil (1750 – 2022), além de outros livros. Foi ministro da Fazenda e secretário-geral da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento-UNCTAD, entre 1995 e 2004, período durante o qual incentivou a pesquisa em economia criativa.

Lafer, por sua vez, foi um acadêmico atento às teorias do direito internacional, publicou importantíssimos livros e atuou por duas vezes como Chanceler brasileiro, além de ter trabalhado na área propriamente diplomática.

Diferentes, mas convergentes trajetórias. Interesses comuns, afinidades intelectuais (Norberto Bobbio, Hannah Arendt, Raymond Aron) e perspectivas políticas semelhantes, “um liberalismo com consciência social”. Continuam a formar uma dupla não projetada, mas que se afirmou no correr do tempo, alimentada por uma comunhão de ideais e atividades. “Diplomatas da inteligência”, como Ricupero afirmou certa vez, ao homenagear José Guilherme Merquior.

O projeto que Paulo Roberto materializou nesse livro é, no essencial, uma história intelectual. Os dois intelectuais de que ele se ocupa são figuras públicas proeminentes, que, no arco de sessenta anos, deram importante contribuição para um melhor conhecimento do Brasil pelo mundo e pelos próprios brasileiros. Com origens e trajetórias pessoais distintas, seus caminhos terminaram por se “cruzarem, se imbricarem e não mais se desligarem”. Ambos continuam a trabalhar, a manter relações de amizade e afinidade intelectual.

O livro não se propõe a ultrapassar os limites impostos pela concepção de história intelectual. Há uma recuperação pontual de traços biográficos, mas o texto sabe como incorporá-los. Do mesmo modo, Paulo Roberto estabelece com clareza que será dada “atenção apenas seletiva à ação de ambos no campo da diplomacia prática, ou da governança de maneira geral”. O foco estará sempre nas ideias, com o objetivo de “ressaltar os aspectos mais significativos de duas trajetórias intelectuais e de atuação pública”, de alcançar “uma síntese tentativa do imenso volume de conhecimento que eles colocaram à disposição do público brasileiro, e até estrangeiro”.

A ideia de traçar o paralelismo entre a vida de Ricupero e Lafer encontra apoio em pontos essenciais: “Uma mesma origem na imigração, ainda que diferente em suas raízes, uma trajetória similar de construção de vida pelo trabalho, o mesmo esforço nos estudos, uma absoluta identidade de propósitos quanto a objetivos maiores”. O que prevalece, da história narrada por Paulo Roberto de Almeida, é sua admiração pelos intelectuais estudados, unidos por dois elementos intangíveis: a cultura e a inteligência.

O livro, em resumo, nos ajuda a compreender melhor a contribuição que Rubens Ricupero e Celso Lafer deram e continuam a dar para tornar o Brasil mais conhecido e, quem sabe, mais preparado para lidar com o complexo mundo atual e enfrentar seu futuro. Uma ótima iniciativa.

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Marco Aurélio Nogueira
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