Que sentido pode haver em isentar as igrejas cristãs da tributação?
Um único: adulá-las, cortejá-las, beneficiá-las, com os olhos nos votos que poderão ser por elas mobilizados. É uma sem-vergonhice.
Em “igrejas” leia-se: seus pastores e suas estruturas, de modo algum seus fiéis.
Jair Bolsonaro é um dissimulado. Diz que vetou porque havia irregularidades na proposta mas ao mesmo tempo espalhou que, “se fosse deputado”, vetaria seu próprio veto. É o malandro que pretende ser mais esperto do que todos. Sobretudo por ser presidente, sua atitude é imoral. Vai na veia da noção de República.
As igrejas, no caso, esfolam a pele dos fieis, cobrando-lhes dízimos e doações, os pastores dos maiores templos são milionários nababescos, vivem em mansões cercadas de regalias, fazem negócios e transações financeiras de dar inveja a qualquer grande empresa capitalista, metem-se em operações de corrupção, sonegam à luz do dia, e alguns, como a pastora Flordelis, não têm qualquer prurido em oferecer moças castas para seus colegas e mandar matar quem a ela se opõe.
E isso em nome de nosso senhor Jesus Cristo? Ora… Tenhamos um pouco de critério.
A turma quer tudo e mais um pouco. As igrejas já são isentas de alguns tributos, como, por exemplo, os que deveriam incidir sobre as “prebendas”, ou seja, a remuneração dos pastores. A ideia agora é que também deixem de pagar a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) e a contribuição previdenciária. Deseja, ainda, anistiar débitos pregressos, que chegam a R$ 1 bilhão. Só a igreja do deputado David Soares deve cerca de R$ 38 milhões.
A trama obscena, urdida com a conivência ativa da Presidência, é um crime contra a economia do País, uma injustiça contra o povo, uma forma de patrocínio e financiamento completamente hostil ao Estado Republicano.
Olhando a paisagem completa, é o retrato bem acabado de um País condenado a não dar certo.
Só falta agora o Congresso assinar embaixo e se desmoralizar por completo, dizendo que está a agir em defesa da religiosidade cristã.