Será que somente o reduzido grupo dos que defendem e valorizam a necessidade de uma nova pactuação democrática consegue ver o tamanho do buraco em que caiu o País?
A fragmentação continua a avançar, trazendo consigo a sensação de que o próximo governo será marcado pela inoperância, pelo artificialismo da concorrência político-partidária e pela tensão ideológica. Ninguém parece se preocupar com o quadro e todos continuam a correr rumo ao precipício, que fica sempre mais próximo.
Cada candidato faz de conta que o problema não é com ele, mas com os outros, sempre tidos e havidos como “inimigos”. Falta cordialidade, desprendimento e tolerância entre os postulantes, e deles o problema se transfere para os eleitores, que já começam a se pegar nas redes.
Por enquanto são onze, que a preguiça analítica distribui entre esquerda, centro e direita, mas que a rigor pouco se diferenciam entre si, a não ser pelo tamanho da língua e pela volúpia de chegar ao poder. Outros mais deverão aparecer e embolar ainda mais a corrida. Como não há ideias postas na mesa, a atribuição do lugar que cada candidato ocupa no tabuleiro político e ideológico não passa de exercício classificatório desprovido de sentido. Serve tão-somente para que se delineie uma situação “ideal”, com polos que se contradizem. As contradições, porém, não são explicitadas. Nem as diferenças.
Dizem que é cedo para que pense em coligações. A incerteza geral, a fragilidade das postulações e a inexistência de conteúdos programáticos claros impediriam que se cogitasse, no momento, da formação de frentes políticas desenhadas para maximizar o poder de fogo de propostas perfiladas no mesmo espaço político-ideológico. A hora é de cada um testar sua densidade.
Pode ser. Mas nunca é cedo para se fazer o certo. A ideia de se levar o eleitor ao limite e de conclamá-lo a pensar no país só no segundo turno é uma opção suicida, que pode implicar a organização de uma disputa desconectada dos interesses populares e nacionais: daquilo que precisa ser feito.
A sociedade não merece ser tratada como se fosse uma coisa qualquer, menos importante que os caprichos, os interesses e as manias dos políticos.
A articulação dos democratas entre si, feita com generosidade, sem vetos e com programas claros, é uma saída tão evidente e tão plena de possibilidades que chega a surpreender que poucos se dediquem a ela.
Professor, afinal, o que há de tão interessante em ser eleito em situações tão desvantajosas, sem contar com um projeto consistente? O que o senhor aponta no âmbito do país, repete-se em outros contextos. Não consigo, por exemplo, entender a “fila” de candidatos para o governo de um Estado falido, como é o caso do Rio e que não tem uma clara perspectiva de recuperação a curto e médio prazos. Tudo isto é gosto pelo poder, ou será que há “algo mais”. Sinceramente, tremo só de pensar. Grande abraço. Compartilhei seu texto em minha rede.
Acho que é gosto pelo poder mesmo, Alfredo. Mas há, também, uma exacerbação da disputa. Quando se tem muito desequilíbrio econômico-social e muita “crise fiscal”, todos se dedicam a ganhar posições para pegar a maior parte dos recursos, políticos e financeiros. É o pior dos mundos, em certo sentido.
Ainda nesta linha de gosto pelo poder, acabo de ler que Trump “lançou o slogan da campanha para a sua reeleição”. Deus do Céu, o homem acaba de completar um ano de mandato, conforme o esperado, fez mais trapalhadas do que obteve acertos e já está pensando na reeleição! Não são coisas como esta prejudicam a democracia e afastam os “bem intencionados” da política?