Rodrigo Pacheco, logo que eleito presidente do Senado, caprichou no sorriso, pôs na face a melhor expressão de bom moço, jurou independência e prometeu sensatez. Sua vitória havia sido interpretada como decorrente das pressões do governo e ele se preocupou em desmentir isso.
Durou pouco a fantasia. Dias depois da posse já elogiava a fala do ministro Pazuello prometendo vacinar toda a população brasileira até o fim de 2021. A pandemia avançou, o País entrou em polvorosa com as novas cepas do vírus, Bolsonaro continuou a espancar a razão e a ciência, mas o presidente do Senado se manteve impassível. Nenhum sentido de urgência.
Agora, confrontado pelo pedido de instalação de uma CPI para investigar os crimes seriais que estão sendo cometidos pelo governo e pelo Ministério da Saúde, saiu-se com essa: “Instalar a CPI da Saúde agora seria contraproducente”. A razão? É que haveria uma “limitação” do Senado por ter de funcionar de maneira remota. Sem plenário presencial, pensa Pacheco, a inteligência se dissiparia e nenhuma CPI poderia trabalhar.
Como se não bastasse, deu entrevista para poupar Bolsonaro das falhas de condução durante a pandemia, elogiando-o como um político que tem “estilo autêntico”, fala com sinceridade e comete erros como todos os seres humanos. Para Rodrigo Pacheco, faz-se o possível para remediar a pandemia, “inclusive com o protagonismo do Congresso”.
A independência prometida se revelou fogo de festim. Disse-o bem o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE): com o requerimento da CPI posto na mesa, o presidente do Senado teria todas as chances de mostrar sua independência e se engajar na luta pelo controle de uma pandemia trágica, que mata mais a cada dia. Oportunidade desperdiçada, que mostra o que se pode esperar de Rodrigo Pacheco.
Prudência e serenidade são virtudes fundamentais em política, especialmente quando é preciso enfrentar uma crise de grandes proporções, como a atual. São virtudes que integram o perfil da pessoa moderada, que procura não se exaltar nem agir de modo passional. Não há porque menosprezá-las. Assoprar brasas não é a melhor opção, especialmente quando se caminha sobre elas.
Mas há algo que se superpõe aos valores e às virtudes da moderação. É a dignidade. Com ela, vêm também a firmeza e a coragem de mostrar as coisas como realmente são, de olhar o monstro nos olhos e enfrentá-lo.
Leiam em Bobbio: “a serenidade é ativa; a mansuetude, passiva. A mansuetude é uma virtude individual; a serenidade, é mais uma virtude social. O manso é o homem calmo, tranquilo, que não se ofende por pouca coisa, que vive e deixa viver, que não reage à maldade gratuita, não por fraqueza mas por aceitação consciente do mal cotidiano. A serenidade é, ao contrário, uma disposição de espírito que somente resplandece na presença do outro: o sereno é o homem de que o outro necessita para vencer o mal dentro de si”. (Bobbio, Elogio da serenidade, Editora Unesp)
Com políticos covardes, mesmo que moderados e zelosos de suas obrigações, não há como as coisas melhorarem ou encontrarem um rumo positivo. Algo há de ser feito para alterar a correlação de forças atual, que mantem o País na beira do precipício.
O sereno é acordado, o manso dorme. Mas Nogueira, resumindoe: nesse capitalismo avançado, em que os prazeres são cada vez mais caros e estimulados (sociedade do consumo), onde está o dinheiro, está o oásis. Quem aí chega, não quer sair. Brasília hoje é o oásis do dinheiro. E os parlamentares da vez são os nômades que lá chegaram e não vão sair. A cupidez os move. Ou os paralisa. Nada farão. Estão satisfeitos com suas verbas, seus cargos e seu poder. No fundo, 99% deles estão assim: satisfeitos e paralisados. Só vão se mexer caso uma catástrofe realmente forte empurre o presidente para o abismo. Aí, sem riscos, em manada, vão se mexer. Uns vergonhosos covardes.