É fácil entender o espanto mundial e as duras críticas recebidas pelo discurso do presidente brasileiro na abertura da Assembleia Geral da ONU.
Bolsonaro falou como se estivesse no cercadinho do Palácio do Planalto. Não falou para o mundo, para o conjunto dos chefes de Estado reunidos em Nova York. O alvo foi a turma das redes e milícias digitais.
Falou como sempre fala, com aquele estilo “bateu, levou” de que se vangloria. Mentiu à vontade, apresentou fatos distorcidos, de tipo “alternativo”, como se vivesse em uma situação que ficou sem centro de gravidade e se deslocou, tornando-se incognoscível. Provocou, ao defender pela enésima vez, o “tratamento precoce” contra a Covid-19 e ao mencionar os resultados da política ambiental de seu governo. Seu isolamento internacional se aprofundou, arrastando consigo a imagem do Brasil.
A Assembleia Geral não é um fórum para prestação de contas, Pelo seu “código de honra”, é refratário a mentiras e provocações, que evidentemente aparecem por ali o tempo todo. A Assembleia é um fórum de estadistas, ou deveria ser. Os participantes estão lá para refletir sobre o estado do mundo, para debater uma agenda de temas e problemas globais, para examinar em que medida é possível uma ação articulada para enfrentar aquilo que não vai bem e evitar tragédias que poderão vir.
A expectativa é que se analise o presente para deslindar o futuro. Bolsonaro fez o contrário: inventou um presente para deformar o passado e se autoelogiar, como se seu governo fosse a oitava maravilha e não estivesse indo ladeira a baixo. Não faltou nem sequer a menção aos inimigos de sempre, o globalismo, os ambientalistas, os esquerdistas, o socialismo.
Foi constrangedor. Ficou evidente a ausência de qualquer reflexão, muito menos sobre o estado do mundo. O discurso foi uma juntada de frases desconexas e fatos falsos. O País por ele apresentado não existe, nem traz consigo uma ideia de nação que corresponda à história e ao povo. As alusões aos problemas internacionais foram protocolares e pífias, consequência inevitável de um governo que se orgulha de não ter uma política externa e de desprezar a diplomacia. Bolsonaro nem ruborizou quando disse que “o Brasil tem um presidente que acredita em Deus, respeita a Constituição e seus militares, valoriza a família e deve lealdade a seu povo. Isso é muito, é uma sólida base, se levarmos em conta que estávamos à beira do socialismo”. É seu estilo brucutu de ser, não há como esperar algo diferente. Ele não deseja mais do que ser um chefe seguido por fanáticos sem capacidade crítica e sempre prontos a obedecê-lo.
Não é o único chefe de Estado com esse perfil. Mas é seguramente o mais caricato.
Se, com seus gestos, palavras e provocações ele terminar por expor o Brasil ao ridículo, ao vexame internacional, azar dos brasileiros. Bolsonaro não está nem aí, feliz da vida por ter podido saborear uma pizza nas calçadas de Nova York. Sem vacina e com uma trupe de ministros apatetados fazendo caras, bocas e gestos obscenos. Para piorar, o Queiroga, da Saúde, pegou Covid. Testou positivo e aproveitou para curtir uma quarentena de 14 dias em Nova York, num hotel 5 estrelas.
A trupe posou para fotos, sem se dar conta do tamanho da vergonha que a pasmaceira gerou. Sorridentes, descontraídos, com um presidente orgulhoso de não ter se vacinado e por isso proibido de entrar em restaurantes.