O lançamento da senadora Simone Tebet como candidata a presidente pelo MDB fez a semana política mudar de qualidade.
Não é relevante, por ora, saber se a senadora tem potência e viabilidade como postulante ao principal cargo político do País.
Simone é de um estado politicamente fraco, sem maior peso eleitoral. Não é muito conhecida, apesar do ótimo desempenho que tem tido no Senado (foi importante na CPI da Covid) e da visibilidade que angariou com isso. É uma estrela em ascensão.
Para complicar, o MDB não está no melhor da forma, ainda que seja um enorme partido. Suas divisões internas, tradicionais, estão expostas para quem quiser ver. O emedebismo permanece a flutuar entre projetos de poder de variados campos, dando maior destaque a eles do que à própria identidade como partido. Deverá continuar forte, mas sem cobiçar em excesso a Presidência. Seu negócio é estadual e parlamentar. Pode ser que não se engaje para valer, como um bloco unido, na candidatura de Simone.
Perfil ela tem e, no discurso com que se apresentou à nação, mostrou que também tem ideias, coisa rara hoje em dia. Ela sabe o norte a ser seguido, deu a devida ênfase às reformas imprescindíveis, aos tópicos emergenciais, dramáticos sobretudo na área social. Fala bem, é clara, direta, faz-se entender com facilidade. Não tergiversa na defesa da democracia, da seriedade, da responsabilidade pública dos políticos e dos governantes. Defende o valor da política em um País estraçalhado pelas crises, pelas polarizações mal resolvidas, pela conduta criminosa de certos governantes.
Tem outros trunfos importantes. É jovem e é mulher, preciosidades nesse País machista e misógino, cortado pelo patriarcalismo vetusto e que somente à custa de muito tranco tem aberto espaços para a afirmação feminina, em particular na política. Simone, como candidata, não só materializa a representatividade de gênero como faz soar uma melodia distinta no debate político. Demarca um território diferente, no qual pulsam outra sensibilidade, outro modo de discutir política, outro jeito de pensar a governança.
Seria uma pena, um desperdício, se ela morresse na praia. Seu papel em 2022 tem relevância estratégica e nos ajudará a descobrir a pista por onde decolar rumo ao futuro.