A luta de Ciro Gomes contra os dragões da maldade

Anthony di Furia
Anthony di Furia
Candidato do PDT combate a polarização, propondo-se a mudar o modelo econômico e o modelo de governança política

Ciro Gomes é conhecido por ser um político olho-no-olho, que fala fácil, sem papas na língua, com segurança e conhecimento. Exibiu essas virtudes na sabatina a que se submeteu na GloboNews, ontem à noite, dia 27/7.

Não há como negar que seu diagnóstico e muitas de suas propostas fazem sentido, Expressam uma visão concatenada do Brasil, que combina desenvolvimentismo, trabalhismo e populismo.  Ciro é um dedicado pregador da tese de que é preciso ultrapassar o “colapso do desenvolvimento” e fazer a economia voltar a crescer, tanto para que se tenha emprego e renda, quanto para que se consiga reforçar os fundos públicos. Sem isso, não haveria como prover os serviços de que a população necessita e atacar firmemente a questão social, as desigualdades, a fome.

Suas propostas incluem um imposto sobre grandes fortunas: 0,5% sobre os patrimônios superiores a 20 milhões de reais. Segundo seus cálculos, isso afetaria somente 60 mil pessoas e beneficiaria milhões, possibilitando a criação de uma Previdência Social universal, com a garantia de uma Renda Básica.

Há uma evidente equação técnica e política a ser resolvida nessa proposição, mas Ciro confia que ela é factível e pode vir a ser sustentada pelo estabelecimento do que ele chama de “cumplicidade com o povo brasileiro”.

O candidato foi bem quando observou que não é correto investir todas as energias políticas e sociais numa “luta contra o fascismo”. Para ele, também é importante pensar nas medidas que terão de ser tomadas a partir de 2023, ou seja, elaborar e discutir um plano para o futuro. Opõe-se a que se busquem apoios entre os setores fisiológicos e corruptos. A união dos democratas tem de ser procurada de outra maneira, sem personalismo e sem apetites desmesurados pela Presidência. Ele localiza, nessa área, as digitais do ex-presidente Lula, que seria um dificultador de entendimentos amplos porque nunca se dispôs a sair do centro do palco, criando muitos episódios de divisionismo e tensão.

Na disputa atual, Ciro briga contra Lula – a quem responsabiliza pelos desarranjos que impulsionaram o crescimento do bolsonarismo  – e contra Bolsonaro, um medíocre que está acabando de destruir o País. Dispara contra os dois com a mesma fúria e veemência, mas dá trombadas em muita gente, distribuindo pernadas a 3 por 4 sem se despentear. Passa a impressão de que, tirando os amigos políticos próximos, não há quem tenha a coragem de fazer o que precisa ser feito. Os dragões da maldade que assolam o Brasil precisam ser enfrentados de peito aberto, coisa que ele se compromete a fazer.

Para tanto, Ciro propõe mudar o modelo econômico e o modelo de governança política. Além de re-industrializar o País, a ideia é restaurar a “autoridade da Presidência da República”, para fazer com que ela imponha uma agenda ao Congresso e à sociedade, sem orçamentos secretos, favores espúrios e concessões indevidas. Para ele, a celebração de um “novo pacto com governadores e prefeitos” é o caminho para que se governe bem o Brasil.

A fala de Ciro Gomes é coerente, mas vem embalada por uma incômoda ideia de facilidade: com ele na Presidência, tudo acontecerá como decorrência de sua vontade e de sua disposição de luta. Na linguagem política usual, chamam isso de “voluntarismo”. Mais problema que solução.

O PDT, partido de Ciro, é uma legenda média, que não tem condições de governar sem parcerias e coalizões políticas amplas. Ciro não diz como conseguirá isso. Hoje, parece solitário, como se estivesse numa carreira-solo. Acredita que vencerá as eleições, pois a polarização Lula-Bolsonaro “está sendo imposta ao povo” e se dissolverá assim que as campanhas avançarem. Pesquisa é um retrato, diz ele, ao passo que “a política é um filme” que deve ser assistido do começo ao fim.

Todo candidato tem um grau inevitável de egocentrismo: precisa se apresentar como capacitado, diferenciado, dotado de ousadia e vontade. Ciro está alguns pontos acima da média nesse quesito. Isso talvez ajude a explicar porque, tendo nas costas “41 anos de vida pública”, ele não tenha conseguido, até hoje, nivelar o terreno e acumule desavenças a torto e a direito.

É de se lamentar, porque Ciro é um quadro político que tem méritos pessoais, ideias e propostas, coisas preciosas num País tão carente de políticos com esses atributos.

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