O vergonhoso e ridículo desfile de tanques em Brasília, no dia de ontem, foi a cereja envenenada de um bolo que apodrece.
Não pode espantar ter a ideia partido de Bolsonaro, o padeiro principal dessa fase esdrúxula da vida nacional. Mas espanta que os comandos militares tenham topado a farsa ameaçadora, de coreografia chinfrim. Dizem que foi por cautela e desejo de não confrontar o presidente. Pode ter sido, num abaixar de cabeças com intenções táticas. Mas o desgaste das Forças Armadas ficou estampado. Elas exibiram uma subserviência hostil ao País e ao Estado democrático que juraram honrar e defender.
O resultado foi péssimo para Bolsonaro. A imagem do País decaiu mais um degrau, o voto impresso foi derrotado, a Lei de Segurança Nacional foi revogada no Senado, uma onda de indignação varreu a sociedade. O presidente parece ter queimado seus últimos cartuchos, embora sempre se possa contar com a invenção de alguma maldade extraordinária na caverna em que habita. A partir de agora, será um figurante, mastigado pelo “Centrão”, ridicularizado na opinião pública nacional e internacional, pendurado em projetos assistenciais que turbinem seu populismo imperfeito e maléfico para ver se sobrevive até as eleições de 2022. Restaram-lhe as hordas de seguidores fanáticos, o cercadinho na porta do Palácio, no qual ele vocifera, blefa e se isola.
Bolsonaro poderá, por certo, continuar a se valer da mentira, das provocações, das fake news, da agressão à democracia, da falta de compostura. Mas seus arroubos autoritários viraram fumaça e desapareceram no ar. Ninguém mais os leva a sério, mesmo que continuem a intoxicar e a envenenar. Deles não saem, porém, fatos materiais capazes de repaginar o ambiente político.
Não há mais razão para que seu impeachment deixe de ser mera cogitação. O Brasil está vilipendiado por um governante fora de controle, encharcado de ódio e ressentimento, e sem nada de positivo nas mãos para oferecer.
Isso é lógica elementar. Mas a política segue lógica distinta, particular, feitas de outros cálculos e de outra argamassa. Como prova disso, estão aí o “Centrão”, o fisiologismo persistente, o “distritão”, a reforma eleitoral ao reverso, os retrocessos pensado para beneficiar interesses muito particulares. São coisas assim que poderão segurar Bolsonaro no cargo até 2022. A ver.