Diário do Confinamento 12:
Miss Cloroquina

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Quem a defende como elixir milagroso pratica uma farsa, é um charlatão que quer faturar em cima da desgraça e da ingenuidade alheias.

Domingo, 17 de maio. As secretarias estaduais de Saúde confirmam no país 233.648 casos do novo coronavírus (Sars-CoV-2), com 15.668 mortes. Sistemas de saúde em diversos estados e cidades estão abrindo falência, sobrecarregados. Pesquisas continuam em desenvolvimento no mundo, mas ainda sem resultados que levem à cura dos infectados. Vacinas virão mais à frente.

Vamos admitir que o presidente da República consiga, pela força do cargo e pela insanidade de seu entorno, impor o emprego da cloroquina no sistema de saúde. O que aconteceria, além da bravata “quem manda sou eu”?

Pessoas continuarão a morrer pelo vírus e outras poderão manifestar doenças antes adormecidas ou insuficiências inesperadas, tipo arritmia e parada cardíaca. A cloroquina não tem eficácia contra o Covid-19 e não é referendada como droga de tratamento por nenhum protocolo médico e científico em nenhum lugar do mundo.

A substância não é uma charlatanice como tal. Há indícios de que ela funciona na abordagem de enfermidades como malária e lúpus, por exemplo.  Mas sabe-se bem que seu uso descontrolado tem efeitos colaterais gravíssimos, que podem comprometer o organismo do usuário. É uma espada que pesaria sobre a cabeça de médicos e pacientes.

A cloroquina é como aquela miss que todos querem ver na passarela mas que, fora dela, não entrega o que promete em termos de conduta. Recita frases do Pequeno Príncipe, diz que o importante é a beleza interior, é fina e delicada nas entrevistas, mas, quando chega em casa, arma o maior barraco com amigos, vizinhos e familiares.

Quem a defende como elixir salvador pratica uma farsa, é um charlatão que quer faturar em cima da desgraça e da ingenuidade alheias. Não é razoável que seja apresentada pela ministra Damares como expressão mais bem acabada de um “milagre”, cujo efeito regenerador ela, a ministra, teria podido presenciar in loco.

Hoje, no País, há um bando de loucos por Miss Cloroquina. Estão seduzidos por ela, arrebatados por seu sex appeal. Tudo indica, porém, que a moça faz o tipo “seduzir e abandonar”.  Os abandonados, nesse caso, como se sabe, costumam se tornar frustrados e agressivos. Alguns mergulham em depressão profunda. Ninguém fica propriamente bem.

Miss Cloroquina precisa sair da passarela e ser vista como de fato é. Por trás da máscara que lhe estão obrigando a vestir, se oculta uma face assustadora. Ela está sendo envolvida em um esquema nebuloso, que se desdobrará em um escândalo. É  um perigo.

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