Não há como reagir com passividade à operação desencadeada pela PF para apurar supostas fraudes cometidas pelos irmãos Gomes, Ciro e Cid, em Fortaleza. A ação, policialesca e injustificável, ocorreu em 15 de dezembro de 2021, mas os fatos alegados remontam a 2013.
O óbvio: tratou-se de uma ação destemperada e fora do padrão, que carrega todas as digitais de Jair Bolsonaro e sua tropa. Há nela um cálculo político troncho, rasteiro, prejudicial à cidadania, mas que contém em si um potencial efeito bumerangue.
A ideia parece ser eliminar um a um os candidatos oposicionistas, seja para tirá-los da corrida presidencial, seja para enfraquecê-los. A intenção é ver se Bolsonaro chega ao segundo turno para disputar a vitória com Lula, tido como contraponto ideal, e muito difícil de ser atingido agora. Bate-se nos adversários mais fracos para depois concentrar os petardos contra o mais forte.
O problema é que o cálculo não prevê a reação solidária dos candidatos. Todos defenderam Ciro Gomes, por exemplo, e ao fazerem isso abriram espaços para articulações unitárias e maior interlocução. Os que forem feridos ou tombarem tenderão a abraçar os sobreviventes, formando de fato uma aliança e forçando Bolsonaro a dispender maior gasto de energia, o que terminará por extenuá-lo.
É o efeito bumerangue, o feiticeiro provando de seu próprio veneno.
Na manobra, portanto, nada mais há do que burrice política e vontade de melar o jogo. Como tudo é possível nesse País que perdeu o eixo e vive sob o império da mediocridade presidencial autoritária, não se deve descartar nem que a manobra tenha algum impacto eleitoral, nem que gere outros atos igualmente destemperados. Seu único resultado efetivo, porém, será contribuir para rebaixar o nível da disputa política, impedindo-a de produzir um debate que delineie um futuro consistente para o País.
Bolsonaro está pagando para ver. Dadas as circunstâncias, já deve ter percebido que os podres armazenados no Palácio do Planalto virão à tona, escancarando o que tem havido de desgraça intencional e perversão nas ações do poder.