Toda eleição é uma competição. Por isso, sempre procuramos avaliar os candidatos pelo que obtiveram de vantagens e apoios, erros e fracassos, pela eficácia das táticas empregadas. Em um debate presidencial, como o realizado domingo, 16 de outubro, é razoável que se avalie quem ganhou e quem perdeu.
Não me parece, porém, que este seja o ponto mais importante.
Antes de tudo, porque há indícios claros de que o eleitorado está majoritariamente com suas escolhas decididas. Faixas particulares (indecisos, abstenção, eleitores ocultos) podem ser afetadas, mas não parece que isso será suficiente para alterar o processo. Em segundo lugar, debates não são necessariamente esclarecedores. E nem são assistidos pela maioria dos eleitores. São um expediente importante, mas servem mais para agitar apoiadores do que para mudar decisões de voto. Tanto que o maior valor deles está no que se diz e se escreve nas redes.
A questão, portanto, é mais de capacidade de persuasão, ou como se fala, hoje, de “desconstrução do adversário”, tendo em vista a captura de algumas franjas de eleitores indecisos. A diferença entre os candidatos é o que menos importa. Ela apareceu muito pouco no domingo.
Debates eleitorais têm, em suma, alcance limitado.
Especialmente quando não são substantivos. O que o eleitor brasileiro médio extraiu do debate de domingo? Nada, a não ser decepção e preocupação com o baixo nível daqueles que desejam governar o País. Nenhum deles falou do que mais importa: o que farão caso sejam eleitos? Como protegerão e valorizarão a democracia? Como criarão empregos e distribuirão renda?.
Bolsonaro se derramou em ataques sórdidos e em autoelogios, invariavelmente apoiados por mentiras e narrativas capciosas. Lula valorizou seu passado e ignorou que o futuro está batendo às portas e vem a mil por hora. Nenhum deles falou em democracia e em política, em Estado ou gestão pública, em políticas sociais estratégicas.
Bolsonaro mentiu seguidamente, sem conseguir explicar como o País chegou, durante seu governo, ao ponto em que está. Para ele, tropeços foram devidos à pandemia e à guerra. Nada do que disseram a seu respeito – seu negacionismo, sua administração medíocre, seus ataques às instituições – foi examinado, como se estivéssemos diante de um presidente blindado, que oculta até mesmo seus segredos mais banais.
Lula, por sua vez, descontextualizou seus dois governos anteriores, agindo como se eles pudessem ser tomados como um padrão que se repetirá, mesmo que as circunstâncias sejam completamente diversas. Lula, que tem a seu favor inúmeros apoios políticos, nem sequer os mencionou. Escondeu Alckmin e Tebet, por exemplo. Dedicou-se a prometer um genérico “cuidar do povo”.
Como observou um colega cientista político, Lula está entregue a uma postura de reações que se pode chamar de “modo Janones”. Está perdendo o discurso político, que só poderia ser um discurso democrático amplo.
Pode vencer as eleições com esse roteiro. Mas não está ajudando a que se dissipem as nuvens de insegurança e incerteza quanto ao que será de fato seu governo.
A troca de acusações durante o debate não trouxe nenhuma novidade, não esclareceu nenhum ponto. Foi literalmente um teatro, uma exibição de retórica, de controle emocional e de linguagem corporal. Ambos erraram feio nesses quesitos. O drama exibido no palco foi pobre, cansativo, vazio de ideias.
Esse é o saldo principal. Entre mortos e feridos, sobreviveram os dois. Quem perdeu mesmo foi o cidadãos brasileiro, que viu ir para o ralo mais uma oportunidade de ser esclarecido e conclamado a recuperar a confiança na política e nas suas instituições.