O golpismo tabajara fracassou, mas continua vivo

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O governo precisa se empenhar na formação de uma base democrática de sustentação na sociedade e no Congresso. Que não será, por óbvio, a que se formou para eleger Arthur Lira, que só o apoiará  se for cevada com muitos favores.

As pretensões golpistas de Bolsonaro e do bolsonarismo estão vindo à tona com a rapidez de um furacão. Quando são reveladas, provocam estragos generalizados, que, infelizmente, se espalham por todo o sistema político, já bastante desgastado aos olhos da população. Se há uma crise da política e da representação, como indicam várias análises, os estilhaços bolsonaristas só a fazem piorar.

A entrevista do senador Marcos do Val foi bombástica. Entre confirmações e desmentido, ficamos sabendo de conversas envolvendo o ex-presidente e o ex-deputado Daniel Silveira que cogitavam, como se fosse simples, armar uma mutreta para impedir a posse do presidente eleito, Lula. O senador fez um escarcéu com a entrevista e depois tentou aliviá-la. Reiterou, porém, em depoimento à Polícia federal, que Bolsonaro em nenhum momento “mostrou contrariedade” com o plano golpista. Na entrevista, foi mencionado que a ideia continha o objetivo de “prender o ministro Alexandre de Moraes”, entre outras coisas. A sensação que passou é que o senador está desfilando para causar confusão. De qualquer modo, entregou declarações picantes e reveladoras.

Valdemar da Costa Neto e Anderson Torres também andaram falando com a PF. O primeiro afirmou que “destruiu” diversos documentos de caráter golpista, porque não tinham sentido e pareciam ter sido elaborados por “pessoas sem experiência”. Anderson, por sua vez, em cuja residência foi encontrada a minuta de um decreto golpista, disse que se tratava de um documento de autoria desconhecida e “totalmente descartável”.

Tudo somado, as revelações mostram duas coisas. Primeiro, que há muitos responsáveis por trás do golpismo tabajara. Segundo, que os golpistas formam uma verdadeira armata Brancaleone. Zanzam sem um rumo muito claro e, pior, sem a altivez do Brancaleone original. Não se entendem entre eles, não se vexam de mostrar suas vergonhas em público e de acumular mentiras esfarrapadas.

O golpe fracassou. Mas o espírito revanchista segue impávido, marcando presença em Brasília e em vários setores da sociedade. Tumulto, tensão e confusão andam de mãos dadas, passam pelas redes e chegam a muitas pessoas. Prisões continuam a acontecer, as apurações avançam, mas não é de se esperar que se volte à “normalidade” no curto prazo. Tamanho é o barulho e tantas são as dificuldades de prospecção, que a impressão é de não há como saber o que é “normal” na política brasileira.

Resta, como sempre, esperar que o governo comece a agir com rapidez, mostrando a que veio, e ajude a fortalecer uma base democrática de sustentação parlamentar. Essa base não será, por óbvio, a que se formou para eleger Arthur Lira, que só emprestará apoio se for cevada com muitos favores. Talvez ela tenha se delineado na eleição de Rodrigo Pacheco, e o investimento democrático deve tomá-la como caminho a ser trilhado. Para conquistar a opinião pública e encharcá-la de democracia e republicanismo

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