O IPEC divulgou ontem, dia 14/12, os números da última pesquisa sobre a corrida presidencial. Algumas luzes de alerta começaram a piscar mais forte, especialmente porque foram reiteradas algumas pistas que estavam evidentes meses atrás. O cenário não está congelado, mas ainda não se desloca com vigor.
A constatação mais evidente não é a folgada dianteira de Lula, que exibe 48% das intenções de voto, prolongando o que havia sido exibido anteriormente. O ex-presidente parece estar jogando sozinho, mas trabalha o tempo todo e tem foco apurado. Vai distribuindo nós tático à esquerda e à direita, confundindo os adversários e, às vezes, surpreendendo os amigos.
O dado mais relevante é o derretimento ostensivo de Bolsonaro como pessoa física e como governante. O apoio direto a ele atingiu 21% e a reprovação a seu governo bateu na casa dos 55%, números que anunciam uma tragédia em marcha e sugerem que será muito difícil sua recuperação. Sempre a se ver, claro. Mas a forma de governar do presidente é rejeitada por 68% dos entrevistados e 70% dizem não confiar nele. Tudo bem, é uma fotografia do momento, mas são números eloquentes.
Mais coisas podem ser vistas. Primeiro, não surgiram outros candidatos competitivos. Segundo, Bolsonaro está pendurado no eleitorado evangélico, mas o compartilha com Lula. Terceiro, Ciro Gomes empacou. Quarto, Bolsonaro é a bola da vez: quem a ele se contrapuser tenderá a crescer.
A pesquisa é ruim para a chamada “terceira via”. Moro e o lavajatismo não mostraram a musculatura que esperavam. Dória indica que está regionalizado em São Paulo e não tem pista aberta Brasil afora. Simone Tebet ainda não teve tempo para aparecer e provar que é viável. Rodrigo Pacheco por enquanto é um sonho mineiro.
Todos ensaiam dançar uma valsa ou mesmo um bolero bem agarradinhos, mas a melodia é de baixa qualidade. É ouvida somente nos bastidores e seus acordes não seduzem. Os candidatos falam com seus botões, não com o eleitor. Blefam muito e nada apresentam em termos programáticos. Juras de amor são protocolares e têm baixa credibilidade. Até agora ninguém falou naquilo que mais importa, políticas públicas que salvem a saúde e a educação, propostas para retirar a economia da estagflação, como criar empregos, acabar com a fome, proteger o meio ambiente e assim por diante.
Oportunidades estão sendo perdidas. Em dezembro, mês de festas e confraternização, aquilo que se perde fica em suspenso, à espera do ano novo. No calendário eleitoral, a corrida ganhará velocidade depois do Carnaval. Há tempo e espaço, portanto, para correções de rota e adoção de condutas mais inteligentes.
Bolsonaro tornou-se o alvo a ser atingido. Na perseguição a ele estará o pote dos votos de ouro. Enquanto não for tratado como o perigo a ser debelado, enquanto continuar a ser contestado pelos números mas poupado pelos candidatos, o jogo permanecerá amarrado.
Lula sabe disso, e é por isso que continua estável, exibindo força e desenvoltura.