O problema não é Eduardo Pazuello ser bolsonarista, negacionista, despreparado e irresponsável. Como ele, há muitos por aí, dentro e fora do governo, ressentidos, raivosos, violentos, empurrando o País para o caos e a destruição. Foi parte da tragédia ele ser indicado para o Ministério da Saúde em um momento tão dramático da vida nacional, um ato deliberado do presidente da República para inviabilizar o combate à pandemia. Estamos sofrendo pelo que ele aceitou fazer e pelo que não fez.
O problema é Pazuello ser um general da ativa, cúpula do Exército. Ao coroar sua carreira com a ida, sem farda e sem máscara, a um comício eleitoral em que aceitou ser apresentado como o “gordinho” preferido de Bolsonaro, para gozo de uma plateia de motoqueiros e fanáticos, ele deixou claro que é um estranho no ninho militar, corporação que se orgulha de prezar a disciplina, a honestidade, a coragem, a hierarquia, a compostura.
Pazuello tornou-se tudo o que um militar não deve ser e sobretudo não pode fazer. Agrediu a verdade, mostrou cinismo extremo, fugiu das responsabilidades, rastejou como não fazem os oficiais. Por caminhos imperscrutáveis, galgou os degraus da carreira e terminou por revelar que a farda não o merece.
Por que fez essa opção?
Por oportunismo e covardia, mas também porque se tornou um clone do presidente. O “gordinho” de Bolsonaro passou a segui-lo em tudo, sem pesar as consequências. Como fez o chefe anos atrás, deu as costas para as Forças e suas regras, sua missão, seus códigos de conduta. Foi-se travestindo. Caiu nas graças dos bolsonaristas-raiz e é provável que já cogite sair do Exército para segui-los vida afora, quem sabe em um cargo político ou em uma nova assessoria.
Ele não se envergonha de nada, está alheio aos efeitos de seus atos. Posa de herói, do tipo que vai para o sacrifício. É o retrato perfeito de uma vergonha, de um opróbrio, que manchará os Anais das Forças Armadas, independentemente da punição e das sanções que vier a receber.