Precisamos falar a sério sobre os candidatos

paul klee ubermut basico
Presidenciáveis precisam mostrar que são líderes. Devem estar dispostos ao sacrifício pessoal e ao sacrifício pela causa. A autossuficiência, a arrogância e a vaidade são seus principais inimigos.

No mínimo, porque o cenário é complicado e desanimador. Mas também porque os candidatos estão aí, o funil está se estreitando e a cidadania começa a se inquietar, impelida pela necessidade de votar ou não, anular o voto ou escolher um dos postulantes.

Candidatos são seres dinâmicos, complexos. Surgem de um jeito, mudam de cara, evoluem ou não, tropeçam, levantam e sacodem a poeira, mas nem todos dão a volta por cima. Aqueles que chegam às últimas etapas precisam mostrar o que trazem na mala e o que têm a oferecer em troca do voto derradeiro.

São um compósito: de pretensões, biografias e trajetórias, de expectativas, de qualidades e defeitos. Nenhum é perfeito, como não o são os humanos jamais. Uns são mais convenientes – a pessoa certa na hora certa –, outros são menos piores. Difícil achar um que preencha os vários requisitos e agrade a todos.

Candidatos são indivíduos, com suas idiossincrasias, e são também peças de um jogo político, coletivo, membros de partidos, portadores de ideias e propostas de governo que não são somente deles.

Os cidadãos, observadores do que rola no palco, olham para eles com um misto de desconfiança, identificação e paixão, atravessados por ódios, distância, proximidade e “amor”. Um candidato “vencedor” é aquele que consegue mobilizar e processar os estados de espírito que saltam fora na medida em que a disputa avança.

Hoje, graças às mídias e ao trabalho da imprensa, os cidadãos também veem os bastidores, conhecem a vida pregressa dos candidatos, seus talentos ocultos e suas falhas de caráter. Precisam gastar bastante energia para compreender a “verdadeira essência” de cada postulante. Não há como saber com precisão porque optam por uns ou outros.

Eleger um Presidente da República deveria significar um ato nobre em um regime presidencialista. Tanto quanto, aliás, eleger governadores, deputados e senadores. Hoje, porém, a nobreza do ato anda em baixa, nem sequer consegue motivar ou apaixonar as grandes massas. Mesmo assim, vamos às urnas, e não somente porque somos obrigados. No fundo d’alma, resta uma esperança de que as coisas melhorem.

Um Presidente desperta maior emoção, mobiliza mais. Afinal, ele é o coringa do jogo. Não pode muito sem o Congresso, sem uma boa equipe de ministros e assessores, sem um claro e consistente programa de trabalho. Mas tudo passa por ele, recebe seu veto ou sua sanção. Se for um bom governante, as coisas avançam, caso contrário empacam, ficando a girar em círculos sem sair do lugar.

Presidentes precisam ser, antes de tudo, líderes, estadistas, figuras magnéticas capazes de atrair, de indicar rumos, de articular e negociar, de emitir sinais que mobilizem. Muitos deles são medíocres, podendo dar origem ao que se costuma chamar de “cacocracia”: governo dos piores, dos malévolos, dos ladrões. Outros são salvos por seus assessores e por seus partidos, outros ainda pela qualidade do Parlamento ou pela boa vontade da sociedade civil.

Presidentes que lideram são raros porque devem saber controlar os ímpetos populistas e autoritários do poder, substituindo-os pelo vigor da autoridade legítima. Devem ainda afastar as tentações e as seduções do poder. Evitando ficar deslumbrados perante elas. Nem todos conseguem, e muitos metem os pés pelas mãos, chegando mesmo a enveredar pelas trilhas obscenas na corrupção e da vaidade.

Candidatos a Presidente precisam mostrar que são líderes desde logo. Devem estar dispostos ao sacrifício pessoal para resistir ao circuito que terão de percorrer, à bateria de perguntas incômodas, às seguidas rodadas de discussão, à exposição pública. Devem estar, também e sobretudo, dispostos à generosidade política – ao sacrifício pela causa –, o que poderá exigir que abram mão das postulações iniciais em nome de uma coesão, de uma aliança, de uma frente de forças imbuídas de um propósito comum. A autossuficiência, a empáfia, a arrogância, a vaidade são seus demônios internos, seus principais inimigos.

Governantes autoritários são fracos. Compensam o fato com declarações bombásticas, frases fortes despejadas em cascata, veemência performática, ofensas e destemperos de toda ordem. Ou, então, fecham-se no silêncio e na escuridão de seus palácios. Não são muito chegados ao debate público.

Candidatos mentem, exageram, prometem mundos e fundos, ocultam verdades inconvenientes, criam factoides para chamar atenção e levantar poeira. Precisam ser monitorados o tempo todo, para que sejam forçados a falar olhando nos olhos dos cidadãos.

Se não conseguirmos avaliá-los pelos diversos ângulos dessas personas que se superpõem e se misturam, corremos o risco de comprar gato por lebre.

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