Faltando um ano para as eleições de 2018, ainda é cedo para prognósticos certeiros. O palco está repleto de candidatos e pré-candidatos, pesquisas são feitas para avaliar o poder de fogo de cada um deles, mas o que prevalece mesmo é a dúvida e o vazio. A campanha vai indo para as ruas, naquela fase de balões de ensaio, declarações genéricas e olho atento nas pesquisas. Mas ninguém tem como prever os próximos meses.
Não dá para saber nem sequer se os que lideram as sondagens serão candidatos ou conseguirão manter o pique nos meses subsequentes. Lula e Bolsonaro têm seus problemas e dificuldades, mas fazem de conta que não ligam. São os que mais investem em caravanas e comícios, porque serão os que mais perderão se não puderem concorrer ou se murcharem quando estiverem perto da praia.
Uma boa prova do cenário embaçado em que se vive são as escaramuças, as tensões e a bateção de cabeças dos partidos perante o governo Temer. Ora juntam-se contra ele, atiçados por editoriais e reportagens globais, ora o elogiam como “campeão das reformas”. Não escapam dessa flutuação nem sequer os partidos que lhe dão sustentação, como o PMDB e o PSDB, este último principalmente, constrangido numa posição politicamente difícil de ser sustentada. Ninguém deixa claro, por exemplo, se Temer é uma tragédia, se é bom para o País, se não passa de um “mal necessário” ou se é o melhor maestro que se tem no momento.
O PT fica fora dessa constatação. Mas não escapa da esquizofrenia geral. Agora, deu para admitir que o “golpe” contra Dilma contou com o apoio da maioria da população e se dispõe a fazer alianças com “golpistas” com a justificativa de que precisa recuperar os votos perdidos. Vai assim, tentando dar uma no cravo, outra na ferradura, soltando fumaça e névoa sobre o futuro, convencido de que a confusão o beneficia.
O fato é que não há um partido, ou uma coligação, que lidere e coordene, ainda que os maiores pretendam estar na direção. Em consequência, Temer apanha de todo lado, se recolhe, se finge de morto, mas segue no posto. Dentro dele, porém, reina o inferno. Num dia, um ministro boquirroto fala uma bobagem, em outro uma ministra pisa na bola de forma grotesca, no terceiro dia há declarações desprovidas de sentido. Chega a ser difícil dizer que se tem um governo, ainda que se tenha muita oposição.
A disputa pela sucessão de Temer não só está aberta, como espalha veneno e toxinas na vida política. Como há pouca coordenação e como os democratas parecem perdidos em meio ao tiroteio geral, ficam todos com a sensação de que está tudo dominando e pouco pode ser feito, com o que o carro segue em marcha inercial, a população aprofunda sua indiferença e a política vai-se embriagando com seus próprios dejetos.
É um cenário estranho, porque embaixo, no mundo da vida real, as coisas parecem “normais”, como se as coisas “lá de cima” não atrapalhassem. Há muita raiva e decepção, mas pouca disposição de luta, seja essa luta o protesto mais contundente, seja ela a preocupação em se preparar melhor para a disputa que se avizinha. A raiva, aqui, se traduz como veto e rejeição, condição que embala candidaturas mais estridentes, salvacionistas e performáticas.
A crise, no chão da vida, é de outra natureza e parece não refletir o que acontece no andar de cima.
Passam-se os dias, os escândalos se sucedem, Temer segue na defensiva, o marasmo geral ganha corpo, mas não surge uma iniciativa que se disponha a botar os pingos nos iis e iluminar a estrada.