Como se já não bastassem a bagunça geral e o desgoverno reinantes no País, ontem acendeu-se um novo rastilho de pólvora na política nacional.
Foi suficiente o senador Omar Aziz, presidente da CPI no Senado, fazer menção aos “maus elementos” que destoam das melhores tradições das Forças Armadas e se envolvem em “falcatruas dentro do governo” para que os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica emitissem nota com termos bélicos contra o senador. Acharam que ele denegriu as corporações. E optaram por abrir uma frente de luta entre militares e instituições representativas, coisa que até agora estava circunscrita aos corredores por onde fluem as narrativas palacianas.
Não se trata de uma crise “natural”. É uma crise fabricada, plantada com a clara intenção de tumultuar. Nela estão visíveis as digitais de Bolsonaro e do general Braga Neto, ministro da Defesa, esse último também signatário da nota. O núcleo palaciano, como se sabe, opera por atritos sucessivos: quanto mais próximos estivermos da explosão, melhor; mais confusão, mais tensão, mais sensação de perigo, para que se tente impulsionar a “desconstrução” cobiçada pelos fanáticos fundamentalistas autoritários.
Pode-se alegar que os comandantes das Forças Armadas, com a nota, quiseram tomar a dianteira para mostrar autoridade e controlar a tropa. Melhor fariam se tivessem admitido que, de 2019 para cá, muitos militares da reserva e da ativa se envolveram em negociatas e trambiques que desonram de fato as Armas. Não foram poucos, mas não foram todos, disse o senador Aziz. Algo deveria ser feito pelas próprias corporações, sempre zelosas em destacar a integridade de seus membros. Como sairá a imagem das Forças Armadas depois que passar a tormenta bolsonariana e forem apurados todos os crimes cometidos contra a população e o Estado? Depois que vier a público o mal praticado por pessoas que negaram a formação militar para enveredar pelos becos escuros do autoritarismo, da corrupção e da obtenção de vantagens ilícitas?
O senador Aziz não ofendeu a instituição militar, muito ao contrário, Procurou preservá-la, pondo o dedo nos frutos podres que usam as insígnias e a carreira militar para agir contra o Estado. Não faltou com a verdade, buscou separar o joio do trigo.
Os comandantes, por sua vez, não se deram conta de que, ao atacar o presidente da CPI, entraram num terreno que não lhes pertence, no qual não se sentem à vontade e do qual deveriam manter a distância constitucional regulamentar. O universo da política representativa, do jogo democrático e do trabalho parlamentar não comporta guerras de trincheiras e proclamações bélicas. É um universo marcado pelo diálogo e pela movimentação constante das peças, que nem sempre é compreendida pela população e por outros atores.
Os militares contribuiriam muito mais se olhassem para dentro da caserna e agissem para depurá-la dos maus elementos.