Em fevereiro de 2021, fui entrevistado pelo pesquisador Marcelo Fontenelle e Silva, Doutorando em Ciência Política na Universidade Federal de São Carlos, integrante do Núcleo de Estudos dos Partidos Políticos Latino-Americanos (NEPPLA) e bolsista CAPES. Como parte de seus interesses de pesquisa, a ideia era avaliar trajetórias intelectuais que, de algum modo, dialogaram com a política de esquerda e o Partido Comunista Brasileiro-PCB, especialmente nas décadas de 1970 e 1980, nas quais os espaços político e intelectual passavam por intensas transformações.
A conversa foi ótima. Pudemos explorar as características em que se deu minha inserção política e intelectual, que retrata muito da geração a que pertenço, marcada pela luta contra a ditadura de 1964, pela redemocratização e pelo ressurgimento dos partidos de esquerda na vida pública, longe da clandestinidade em que viveram durante bom tempo.
Como escreveu Marcelo na apresentação, a entrevista “teve como foco a sua história de vida e o modo como pensou e articulou atuação política e intelectual”, de modo a produzir “um documento útil para todos aqueles que possuem interesse na relação entre os intelectuais e a política e na história das Ciências Sociais no Brasil”.
A entrevista foi publicada na Agenda Política. Revista de Discentes de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos, Volume 9, Número 1, p. 338-356, janeiro-abril, 2021. Pode ser lida seguindo o link.
saudações, marco. desculpe tomar seu tempo, mas é inevitável, resolvi comentar. comecei a ler a entrevista e já apareceu um trecho marcante, pra mim, tendo em vista os tempos atuais: ” (…) Mesmo quando virei adulto e comecei a escrever em jornais, meu pai sempre comentava e corrigia meus textos, de modo suave e discreto. Em suma, minha trajetória foi bastante impulsionada por essa presença intelectual, mas mais técnica, do meu pai. Com a insistência em cuidar da linguagem, da escrita, ter sempre dicionários ao lado, se preocupar com os sinônimos, com os antônimos, os tempos verbais. Em minha casa, não era permitido falar errado. A maior influência familiar que tive não foi política ou intelectual, mas moral. Ser honesto e lutar pela vida com dedicação, sem desperdício ouconsumo desnecessário. Cresci tendo claro que cada um deveria caminhar conforme o salário que recebesse e sem medir sacrifícios. Esses foram valores muito fortes, marcantes, que me forjaram. (…)”
É que aqui estão combinados 2 elementos fundamentais, ética e comunicação, comunicação como interação social. creio que nos dias de hoje esse “falar certo” está sucumbindo; o falar certo que nos coloca em ligação com o tal do “conjunto social” está dando lugar ao “falar politicamente correto” que, a meu ver, vem nos ajeitando, a todos, em espaços compartimentados, as bolhas sociais, onde só falamos a linguagem daqueles que concordam com a gente. dá pra entender o que digo? faz sentido? em nome de nos tolerarmos a todos, nos acomodamos a jargões, nos etiquetamos e podemos seguir bem educados. não sei se mexplico bem. não ando falando muito certo. vou voltar à sua entrevista, deixo um abraço. sizenando.
carissimo Sizenando, muito obrigado pelo comentário. Vc captou bem o que pode haver de sentido naquela passagem, que cruza ética e comunicação, coisas que estão em falta hoje. Não só porque o falar com correção não goza de muito prestígio, mas porque as falas públicas, nas interações, estão travadas, como vc bem observou. Os jargões e as “teses” cômodas preponderam e dificultam a fluição das conversas. É um tempo complicado. Grande abraço