
Onze candidatos e nenhuma ideia
Ninguém se preocupa com o quadro e todos correm rumo ao precipício, que fica sempre mais próximo. Cada candidato faz de conta que o problema não é com ele, mas com os outros, sempre tidos e havidos como “inimigos”.
Ninguém se preocupa com o quadro e todos correm rumo ao precipício, que fica sempre mais próximo. Cada candidato faz de conta que o problema não é com ele, mas com os outros, sempre tidos e havidos como “inimigos”.
Todo partido político tem suas idiossincrasias e suas manias. Os de esquerda, porém, levam isso ao paroxismo, talvez porque sejam os que vivem com maior intensidade e dedicação o problema da organização.
Ocupá-lo é uma necessidade. Sem ele nenhum sistema político ganha fluidez. No Brasil, o desafio passa pela reconstrução de algo que, em boa medida, foi a força propulsora da redemocratização. Como a vida mudou e a política entrou em parafuso, reconstruir o centro tornou-se ao mesmo tempo problema e estratégia.
Havia no Rio um governo semimorto, comido pela corrupção, pela falta de credibilidade e pela inoperância. Esse governo agora morreu de vez. Com ele, é de se esperar que se dissolva todo um sistema que abocanhou o Estado e o converteu em reserva de caça. Se o modelo a ser inventado pela intervenção federal conseguir cercar a criminalidade que se alimenta da corrupção política, um passo será dado.
Se Huck quer mesmo se colocar a serviço de uma causa, poderia começar do começo, amassando barro e sujando as mãos. Não precisaria fazer uma “carreira”, ser vereador, deputado, senador. Bastaria que mergulhasse na política, dominasse suas idiossincrasias, conhecesse seus atalhos e seu modus operandi.
O antídoto contra a dispersão e o voto nulo não é a candidatura de Lula, mas a capacidade de articulação dos políticos. Não é razoável dizer que milhões de brasileiros e brasileiras preferirão ficar em casa mastigando a decepção de não poder votar em Lula em vez de comparecerem às urnas.
A política é “judicializada” tanto porque os juízes se politizaram quanto porque os políticos já não conseguem produzir zonas mínimas de consenso e veem no Judiciário um ótimo local para transferir essa responsabilidade, com a vantagem de que os tribunais podem ajudar a que se protelem decisões e se criem embaraços para eventuais adversários.
O desfecho do julgamento de Lula não gera mais indecisão do que já se tinha. Ao contrário, pode levar à recuperação de uma racionalidade reformadora – típica do reformismo democrático — que estava perdida. Não retira credibilidade do processo eleitoral de 2018: pode valorizar as escolhas eleitorais, chamar os cidadãos para a esfera pública e instituir uma relação de novo tipo com o Estado e a comunidade política.