Cenários alternativos e uma articulação ausente

Cenários sempre apresentam riscos e incertezas. Alguns são mais razoáveis do que outros. Podem ser mais amplos ou menos, assim como contemplar os interesses gerais em maior ou menor medida. Alguns nos levariam mais longe do que outros. Seus efeitos são difíceis de serem prognosticados. 

Crises e desfechos

Na atual situação brasileira, a probabilidade maior não é um desfecho regressista, que faça o carro da História dar marcha a ré. O Brasil deseja seguir em frente, precisa fazer isso, não há forças que consigam quebrar esta imposição da realidade ou levar o país para o lado das trevas.

O destino de Temer e o desafio da democratização

A crise está servindo para que se decida não somente a sorte do governo Temer, mas algo muito mais sério: a sorte da redemocratização, que depois de 30 anos virou democratização mas não se estabilizou nem se adensou, e hoje se mostra necessitada de recomposição.

A outra volta do parafuso

Nem tudo está entregue a operadores ilícitos, a conservadores reacionários e a mascarados treinados para desmobilizar. Porque áreas saudáveis também se reproduzem, pulsam e resistem. Elas estão, porém, reprimidas e sufocadas pelo bate-cabeças generalizado, pelo silêncio das lideranças, pelos frêmitos da precipitação que excita, pela falta de diálogo construtivo entre as partes.

Os marqueteiros e a narrativa das delações

É preciso descartar a ideia de que tudo o que rola na Lava Jato é uma armação da “direita”, fruto do egoísmo das elites, da invenção da mídia, da perseguição política e da luta de classes contra Lula. A esquerda também pode roubar e corromper, composta que é de humanos, não de santos ou deuses.

Tudo é possível, mas nem tudo pode acontecer

Ao libertar Dirceu, Bumlai, Eike e Genu, a 2ª Turma enviou uma mensagem à sociedade e aos interessados: ela quer participar do jogo, não somente assisti-lo ou arbitrá-lo. Deseja que o STF se politize e alongue seus braços para abraçar a dinâmica dos conflitos políticos que cortam o País. Não é pouca coisa, mas também não é nenhuma novidade.

Depois das delações, o tempo

Pode-se dizer que delação não é prova ou que faz parte do mesmo “golpe” que afastou Dilma da Presidência. Pode-se dizer que os Odebrecht deitaram e rolaram como verdadeiros donos do Brasil e agora estão querendo livrar a cara, descarregando tudo nas costas dos políticos.

Pode-se dizer o que for, mas não há como fazer de conta que nada ocorre de extraordinário, que as delações derivam de pressões indevidas ou que o Brasil se converteu numa “Nação de delatores”.

Com a divulgação das delações dos executivos da Odebrecht, o espanto se combinou com o mal-estar, tamanho foi o buraco que se abriu. Dinheiro sendo distribuído a rodo, a partir de extorsões feitas por pessoas empoleiradas no topo do poder e impulsionadas pela volúpia de empresas que escolheram correr o risco de dilapidar seu patrimônio ético e material.