Diário do Confinamento 19:
A nau dos insensatos
O governo atual é tóxico. O presidente pode falar o que for, mas sua hostilidade à democracia é tão flagrante que não consegue ser simplesmente varrida para baixo do tapete.
O governo atual é tóxico. O presidente pode falar o que for, mas sua hostilidade à democracia é tão flagrante que não consegue ser simplesmente varrida para baixo do tapete.
Se conseguirmos suportar o impacto da doença e não formos atrapalhados por governantes inescrupulosos, o vírus terminará por ser controlado. A pandemia, porém, deixará marcas profundas.
Impulsionado pelo protagonismo raivoso e paranoico dos filhos de Bolsonaro, o governo parece disposto a atirar nos próprios pés, como se isso fosse prova de ousadia e destemor.
Os candidatos não podem transferir para oligarcas ou “golpistas” responsabilidades que precisam ser contabilizadas coletivamente e assumidas antes de tudo por eles mesmos.
Repetir slogans e chavões, incorporar o espírito de terceiros para iludir o povo e jurar ataques frontais aos bancos podem impressionar os incautos, mas não ajudam a que o País encontre uma rota.
A ideia da unidade democrática é um valor. Foi com ela que, anos atrás, derrotamos o regime ditatorial e escrevemos a Constituição. Hoje, não há mais ditadura, o país mudou, novas correntes políticas apareceram, o mundo se globalizou, os desafios aumentaram demais. Se os democratas não se articularem, tudo ficará mais difícil.
O Brasil entrou no século XXI convencido de que o pior havia ficado para trás. Aos poucos foi ficando claro que as coisas não eram tão simples. Um caminho socialdemocrático poderia ter sido adotado. De uma eleição a outra, porém, tucanos e petistas se dedicaram a uma obra de destruição recíproca.
Poderes divididos e desnorteados são poderes inoperantes, expostos e devassáveis. Quando um poder como o Judiciário entra em crise e se despedaça, torna-se uma ameaça para a sociedade. Em vez de protegê-la e convidá-la a respeitar a lei, converte-se em agente da corrosão ética que ameaça devorar a convivência entre os cidadãos
O país conhece inédita elevação da temperatura política. O período pré-eleitoral turbina tudo, mas também há coisas mais profundas e perturbadoras por baixo dele. Deste subsolo tóxico sobem gases que envenenam o debate político e desafiam a democracia, arrastando as eleições para uma zona de risco.