
Janot e Janus, o deus da transição
No cargo que ocupa, Janot deveria sempre se guiar pelo deus romano, que tinha poder sobre os inícios e as mudanças, condição que o fazia dominar as portas, as transições, o passado e o futuro.
Descubra esse livro inteiramente dedicado a examinar os temas e problemas atuais, da ascensão da extrema direita ao populismo, da vida digital ao identitarismo
Numa dinâmica e instigante conversa, publicada no canal de Risério no Youtube, o antropólogo e o sociólogo discutem as principais questões da agenda política e cultural contemporânea.
No cargo que ocupa, Janot deveria sempre se guiar pelo deus romano, que tinha poder sobre os inícios e as mudanças, condição que o fazia dominar as portas, as transições, o passado e o futuro.
As pessoas estão indignadas, machucadas e frustradas com promessas e expectativas que vieram lá de trás. Mas ao menos por ora não demonstram achar que o grito uníssono de “fora Temer” possa mudar alguma coisa.
Quando órgãos de imprensa tomam posição, não estão em jogo somente os interesses econômicos das classes de que fazem parte seus proprietários. Entram em cena outros aspectos, importantes e eventualmente decisivos.
Redes virtuais podem ser tóxicas. Podem criar dependência e extrair o pior de cada um de seus frequentadores, fazendo com que venham à boca o fel da amargura e o sangue da vingança. A desmontagem desse quadro será complexa e só avançará na medida em que avançar a educação e se formar uma nova cultura de massas.
Hoje, os que estiveram unidos décadas atrás se desuniram. Muitos se tornaram inimigos entre si. Amizades foram desfeitas como se nada tivessem significado, biografias foram reescritas, focos se alteraram. Os campos políticos se desorganizaram e a dissonância cresceu sem limite. Foi uma verdadeira obra de demolição. Empreendida não por ditadores, nem pelo “sistema”, mas pelos próprios protagonistas.
A decisão tucana de permanecer no governo Temer foi mais um tijolo na obra de desconstrução do PSDB. Algo que cobrará um preço, do próprio partido, que prolongou sua indefinição, e da política nacional, que pode ter perdido outro personagem que faria a diferença.
Precisamos nos acostumar a viver na turbulência e na incerteza, procurando não perder o que já conquistamos, não edificar castelos nas nuvens, não cogitar de ataques a Palácios, não desperdiçar energias.
Afastando-se ou não Temer, as coisas seguirão as mesmas e o país chegará ao fim de 2018 como os mesmos recursos e a mesma elite política de que dispõe hoje. É um jogo de cartas marcadas, de correlação de forças congelada, de vazios petrificados.
Na atual situação brasileira, a probabilidade maior não é um desfecho regressista, que faça o carro da História dar marcha a ré. O Brasil deseja seguir em frente, precisa fazer isso, não há forças que consigam quebrar esta imposição da realidade ou levar o país para o lado das trevas.
A crise que afetou o governo Temer a partir das delações da JBS não é um fato isolado, animado exclusivamente por fatores internos. Ela existe como coisa em si, mas suas raízes são profundas, grudam em terrenos escorregadios e de difícil acesso.
Dada a temperatura elevada que acompanha a evolução da crise política, com suas contradições, algumas providências deveriam ser tomadas para que possamos seguir em frente, ou ao menos tentar.
A crise está servindo para que se decida não somente a sorte do governo Temer, mas algo muito mais sério: a sorte da redemocratização, que depois de 30 anos virou democratização mas não se estabilizou nem se adensou, e hoje se mostra necessitada de recomposição.