Combustão interna
Impulsionado pelo protagonismo raivoso e paranoico dos filhos de Bolsonaro, o governo parece disposto a atirar nos próprios pés, como se isso fosse prova de ousadia e destemor.
Impulsionado pelo protagonismo raivoso e paranoico dos filhos de Bolsonaro, o governo parece disposto a atirar nos próprios pés, como se isso fosse prova de ousadia e destemor.
Temer não ficará sangrando em céu aberto, ainda que parte de suas vísceras estejam expostas. Pesará nada em sua sucessão, com poder zero para influenciá-la. Há uma interrogação flutuando sobre ele: como chegará até o fim?
Precisamos nos acostumar a viver na turbulência e na incerteza, procurando não perder o que já conquistamos, não edificar castelos nas nuvens, não cogitar de ataques a Palácios, não desperdiçar energias.
Dada a temperatura elevada que acompanha a evolução da crise política, com suas contradições, algumas providências deveriam ser tomadas para que possamos seguir em frente, ou ao menos tentar.
Nem tudo está entregue a operadores ilícitos, a conservadores reacionários e a mascarados treinados para desmobilizar. Porque áreas saudáveis também se reproduzem, pulsam e resistem. Elas estão, porém, reprimidas e sufocadas pelo bate-cabeças generalizado, pelo silêncio das lideranças, pelos frêmitos da precipitação que excita, pela falta de diálogo construtivo entre as partes.
Quando Berlusconi emergiu na cena política italiana, o filósofo Norberto Bobbio (1909-2004), um liberal-socialista então com mais de 80 anos, saiu em seu encalço. Escreveu diversos artigos para tentar entender o fenômeno e alertar a opinião pública. Viu Berlusconi como um autêntico ovo da serpente, do qual nasceriam demônios difíceis de serem controlados. Uma seleção desses artigos está agora no volume “Contra os novos despotismos. Escritos sobre o berlusconismo”, recém-publicado no Brasil.