Além do dia seguinte
Em meio a contundentes discursos de Barroso e Fux, a “Declaração à Nação” de Bolsonaro distensionou o ambiente político, mas tem tudo para cair no vazio
Em meio a contundentes discursos de Barroso e Fux, a “Declaração à Nação” de Bolsonaro distensionou o ambiente político, mas tem tudo para cair no vazio
A prisão de Temer é mais um capítulo no ajuste de contas da Justiça com o sistema político — um ajuste que precisa ser conduzido com inteligência estratégica e republicanismo, para que não se substitua o que estava ruim por algo ainda pior
Afastando-se ou não Temer, as coisas seguirão as mesmas e o país chegará ao fim de 2018 como os mesmos recursos e a mesma elite política de que dispõe hoje. É um jogo de cartas marcadas, de correlação de forças congelada, de vazios petrificados.
Na atual situação brasileira, a probabilidade maior não é um desfecho regressista, que faça o carro da História dar marcha a ré. O Brasil deseja seguir em frente, precisa fazer isso, não há forças que consigam quebrar esta imposição da realidade ou levar o país para o lado das trevas.
A crise está servindo para que se decida não somente a sorte do governo Temer, mas algo muito mais sério: a sorte da redemocratização, que depois de 30 anos virou democratização mas não se estabilizou nem se adensou, e hoje se mostra necessitada de recomposição.
Nem tudo está entregue a operadores ilícitos, a conservadores reacionários e a mascarados treinados para desmobilizar. Porque áreas saudáveis também se reproduzem, pulsam e resistem. Elas estão, porém, reprimidas e sufocadas pelo bate-cabeças generalizado, pelo silêncio das lideranças, pelos frêmitos da precipitação que excita, pela falta de diálogo construtivo entre as partes.
As coisas não podem ficar como estão. Chegou-se a um ponto em que ou alguém põe o guizo no gato ou o castelo cairá. Ou o que sobrou do castelo. As ruas e a sociedade civil, o que houver de energia e discernimento nos partidos e os movimentos sociais precisam encontrar um ponto de unidade e convergência, a partir do qual interpelar os eleitores.
Temer é de certo modo uma figura paradoxal. Um presidente improvável e estranho ao modo como os brasileiros entendem a Presidência e seu ocupante. Mas, curiosamente, parece ter imprimido um estilo mais frio e opaco ao centro do poder político, o que não é pouco neste País estraçalhado por crises, pela desigualdade e pela polarização.